domingo, 29 de junho de 2008

Diário de uma Produtora

Case: Eliminatórias da Copa: Brasil x Argentina – Mineirão – BH

São Paulo, 18 de junho de 2008.

Tem coisas que só passando mesmo pra saber.

Hoje tem jogo do Brasil contra a Argentina no Mineirão. São os jogos das eliminatórias para a Copa de 2010 e eu vou! A trabalho ... mas vou. Observação pertinente: Incrível como a publicidade e o dinheiro que ela envolve fazem com que o mundo fale da Copa com tanta antecedência não?
Um dos clientes de incentivo da agência em que trabalho aprovou a grande idéia de premiação trimestral de funcionários com ingressos para os jogos das eliminatórias da Copa do Mundo, e como eu sou a produtora do núcleo que atende esse cliente na área de eventos, fui convocada a trabalhar. Nada contra, porque afinal é um jogo clássico, daqueles que qualquer um toparia sem nem pensar no que teria que fazer em troca. Mas no meu caso, por experiência em evento, sei que nem tudo são flores.
A vida não é bela a ponto de ganhar ingresso, assistir ao jogo em um camarote com direito a presenças VIP’s e show do Jota Quest e Skank sem que pra isso eu me esfole por tempo suficiente pra ter acesso a tudo isso tudo por apenas alguns minutos.
Mas não vou reclamar, afinal, eu realmente gosto de trabalhar com produção e isso acaba não me incomodando, sem contar que eu procuro pensar que só é possível se divertir mesmo quando você é o premiado, porque ai não tem “compromisso” com nada.
Acordei muito cedo, sai correndo pra atravessar a cidade em tempo record. Meu vôo estava marcado pra decolar às 08h20 e cheguei no aeroporto às 07h50. Fiz meu check in correndo, agradecendo por não ter fila quando a moça me fala “Senhora, gostaria de informar, que por motivos de mau tempo o aeroporto do Congonhas está fechado para pouso e com isso não temos nenhuma aeronave pra decolagem e estamos com atraso.” Por um momento eu fiquei aliviada, afinal não estava tão atrasada assim. Mas foi apenas por um momento mesmo. Encontrei a Adriana (Atendimento dessa conta) no salão de embarque e o tempo foi passando, bem devagar, e nada acontecia. Já devíamos ter decolado há duas horas quando fomos informadas pelos auto-falantes do local que o aeroporto foi reaberto. Precisamos de quase mais uma hora pra que informassem a previsão do nosso vôo: “Passageiros Varig, vôo 2050 com destino à Confins – Belo Horizonte: a aeronave ainda não pouso e a previsão de saída é 11h40. Pela atenção obrigada!”. Observação Impertinente: Por que eles falam pela sua atenção obrigada e não o contrário como qualquer pessoa comum?
Enfim, entramos na aeronave às 12h20. Mas o perrengue não acabou ai. Em função dos atrasos de todos os vôos existia uma fila de aviões na pista de decolagem e o nosso era o sétimo, logo, ficamos mais uma hora na pista até enfim decolarmos por volta de 13h30.
A minha mania besta de tentar desesperadamente prever sinais do universo me deixam um tanto apavorada, já imaginando que o meu atraso no caminho, a falta do táxi, a falta do troco e o nevoeiro eram sinais de que eu não deveria voar. Vê se pode uma coisa dessas? Uma pessoa em busca de independência, de auto-suficiência, de uma posição executiva na vida com esse tipo de medo. Tsc, tsc, tsc. Assim não pode!
Momentos de tensão aérea a parte, já com os pés em solo mineiro, começamos os momentos de tensão terrestre, e esses foram piores.
Saímos do aeroporto e uma hora depois estávamos no hotel. Nossa chegada estava atrasada em 6 horas. Já tínhamos passageiros hospedados e começamos a distribuição de ingressos, pulseiras do camarote e camisetas do grupo. Subimos pro quarto às 16h30 e pedirmos alguma coisa pra comer enquanto entrávamos em contato com os premiados já hospedados, verificávamos os vôos e chegadas em BH, arrumávamos nossas coisas nos quartos e recebíamos ligações enlouquecidas sobre os atrasos e dúvidas de premiados e do cliente. Em menos de uma hora estávamos prontas no lobby do hotel, com as camisetas e ingressos a serem entregues, arrumadas para o jogo e com as informações sobre os passageiros que ainda não haviam chegado. Pouco mais da metade do grupo estava no hotel e recebeu seus kits, enquanto a outra metade estava voando. Saímos atrasados, mas nada que comprometesse o cronograma. O trânsito na cidade estava um caos, afinal o mundo todo estava ali e indo pro mesmo local. No caminho confirmamos que uma parte do grupo já estava na cidade e como precisávamos entregar os kits pra que eles pudessem entrar, fiquei na entrada do portão 08 (acho que jamais esquecerei esse número). Primeira leva composta por 04 pessoas, ainda a tempo de assistir ao show do Jota Quest e o primeiro tempo do jogo. Enquanto isso eu continuava no portão esperando mais 8 pessoas e apenas ouvindo as músicas do show, mas se me perguntar não saberei dizer quais foram. Passado mais um bom tempo, o que eu pensei ser o último grupo chegou. Apareceram mais 6 pessoas. Fiz a entrega dos ingressos, passei as informações necessárias e eles entraram, após o show, mas ainda antes do início do jogo. Estava toda feliz quando chequei a lista e me dei conta de que faltavam 02 pessoas. Caraca! Quem são esses dois? De onde vêm? Eles chegaram? Estava bem irritada quando encontrei as meninas que estavam fazendo o receptivo no aeroporto. Conferi minha lista com a delas e descobrimos que um passageiro não chegou e eles consideraram no show e o outro elas sabiam que chegou, mas o cara não passou por elas, ou seja, sumiu no mundo. Depois de muito pensar no que fazer, olhei no relógio e notei que faltavam apenas 15 minutos para o início do jogo e então nesse momento foi fácil achar a solução. Conversei com a agência que estava organizando todo o camarote, de quem compramos o pacote desse jogo, e passei os nomes, pedindo que me informassem se esses premiados chegassem.
Mais ou menos no meio do primeiro tempo, fui pegar algo pra beber quando dei de cara com o pessoal da agência e um rapaz procurando alguém. Adivinhe quem??? Sim, estavam me procurando. Era um dos meus premiados perdido, o que todos sabiam que chegou na cidade mas ninguém tinha visto. Liberei a entrada dele e continuei a assistir ao jogo. Logo no início do intervalo recebemos uma ligação do escritório do cliente em São Paulo informando que nosso último premiado, o que todos consideraram no show, acabava de desembarcar em Confins e ia pegar um táxi até o estádio. Lá fui eu novamente pra porta aguardar que ele chegasse e mais uma vez perdi um show, dessa vez do Skank, e assim como no anterior, apenas ouvi algumas músicas que não lembro quais foram. Logo no início do segundo tempo o rapaz chegou, todo empolgado, senti uma mistura de alívio por ter todos ali comigo e dó do cara por ter perdido metade do jogo dentro de um avião.
Final de jogo, Brasil empata em 0x0 com a Argentina e meu trabalho não acaba. Enquanto todos entravam no ônibus e se acomodavam, muitos dormiram, eu ia atrás do coordenador de logística para fechar as vans de amanhã para o aeroporto. Eu sei, já deveria ter essas informações em mãos, mas a operadora em questão estava um tanto perdida e atrasaram todas as informações. Fechei os carros e horários, passei as informações pro pessoal no ônibus e seguimos para o hotel.
Mesmo cansada ainda arrumei forças para um última reunião com os premiados e passar as informações novamente (eles são muito inseguros). Tomei aquele merecido banho. Tentei deixar tudo o mais arrumado possível, tomei um achocolatado, liguei a tv e aumentei o ar só pra ter um bom motivo pra me encolher toda embaixo das cobertas e dormi.

18/06/2008 - Mineirão - Brasil 0 x 0 Argentina - 52 mil pessoas



São Paulo, 19 de junho de 2008.

No final tudo sempre dá certo.

Acordei muito cedo e fui tomar meu café da manhã após a saída do primeiro grupo com destino ao aeroporto e retorno a suas casas. Comi pouco, estava com muito sono, mas sabia o tanto de coisa que tinha a fazer.
Passei meus olhos pelas planilhas novamente, fiz minhas últimas checagens, conversei com os premiados e repassei horários de saída de transfer e vôo de cada um, além é claro, de alertar sobre o horário do check out do hotel.
Como a próxima saída de van era a mesma da Adriana (Atendimento da conta) combinamos que ela faria esse acompanhamento enquanto eu arrumaria minhas coisas. Fui pro quarto arrumar as malas e pastas do trabalho que estavam uma bagunça e por fim acabei adormecendo em cima de tudo. Acordei em cima da hora como uma maluca. Tinha um grupo saindo para o aeroporto às 11h50 e eu acordei de sopetão às 11h30. Terminei as arrumações e desci com as malas para já fazer o meu check out. Coordenei o transfer do almoço e liberei os outros premiados para almoçar no hotel enquanto tentava desesperadamente alterar meu vôo, afinal ninguém merece sair de Belo Horizonte às 20h40.
Consegui, em cima da hora, alterar meu vôo mas dessa forma teria que deixar o último grupo sozinho. Que desespero! Não sabia o que fazer. Aprovei a troca das passagens e enquanto todos almoçavam, eu mexia meus pauzinhos. Meu transfer era às 13h15 e o último seria 15h00, então conversei com os coordenadores locais, peguei telefone do motorista da última van, passei os nomes de todos os passageiros, confirmei todos os vôos e horários com as cias aéreas pelo telefone para que não houvesse problema nos embarques, e convenci uma pessoa do hotel a ficar responsável pelo grupo até a saída pro aeroporto.
Tudo resolvido me encaminhei a Confins e assim que cheguei fui direto fazer check in e já subi no salão de embarque, de onde, por telefone, controlava o que estava acontecendo. Fui informada quando o último grupo deixou o hotel e já dentro do avião consegui contato com um dos premiados para passar o telefone da responsável de São Paulo caso houvesse algum problema.
O vôo foi tranqüilo até o momento que o piloto entrou em contato conosco no que eu pensei ser a chegada em São Paulo: “Boa noite passageiros. Gostaria de informar que teremos um atraso no pouso em Congonhas, pois devido a problemas de mau tempo o aeroporto está fechado para pouso. Temos a ordem de sobrevoar Viracopos (Campinas) por 15 minutos.” Pronto! Era só o que me faltava. Depois de todo o perrengue de ontem, eu não merecia descer em Campinas e ainda ter um traslado para São Paulo.
Graças a Deus tudo deu certo e cheguei sã e salva em Congonhas. Mais algum tempo na esteira, e uma certa ansiedade e medo de não encontrar minha mala me fizeram concluir que minha próxima mala será roxa de bolinhas amarelas. Cheguei até a pensar na possibilidade de abrir uma empresa de customização de malas de viagem, eu prestaria serviços a lojas de malas. Por exemplo, você vai, compra sua mala preta e básica como quer e eu lhe dou a possibilidade de ter as alças metalizadas em cores diferentes, ou mesmo couro ou outro material sintético colorido, posso pintar, bordar ou silkar alguma imagem ou palavra nela, inserir algum tipo de adereço, além de criar tags de identificação bem bonitos e condizentes com a arte escolhida na mala. Mas isso é coisa pra daqui alguns anos, quando tiver tempo pra colocar tudo isso no papel e buscar custos para viabilizar isso.
Depois de tudo isso, já no táxi, fiz meus últimos contatos e tive a certeza de que tudo ocorreu da melhor forma possível, mesmo sem a minha presença no último embarque.

Nenhum comentário: